Análise dos resultados do ENEM
Os números do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008, que foi realizado há três meses, voltaram a mostrar que esse nível de ensino continua sendo o mais problemático do sistema educacional brasileiro. Com apenas três séries, contra oito do ensino fundamental, o ensino médio carece de um currículo moderno, os programas não são nem formativos nem profissionalizantes e a maioria das escolas não sabe se prepara os alunos para os exames vestibulares ou se oferece um ensino técnico profissionalizante, treinando-os para o mercado de trabalho.
Por isso, o mau desempenho dos alunos do ensino médio no Enem de 2008 não surpreende. Como já esperado, mais uma vez as escolas particulares exibiram resultados superiores aos das escolas públicas. Enquanto os alunos da rede privada alcançaram 56,12 pontos, os estudantes da rede pública obtiveram média de 37,27 – uma diferença de 18,85 pontos (no Enem de 2007, a distância entre as duas redes de ensino foi de 20,4 pontos). As escolas públicas com pior desempenho estão nas Regiões Norte e Nordeste.
No entanto, mesmo no Estado do Rio Grande do Sul, que tem a melhor rede pública de ensino médio de todo o País, segundo as avaliações do MEC, os estudantes gaúchos acertaram menos de 50% da prova objetiva do Enem de 2008, que propunha 63 questões de múltipla escolha. A outra prova, de redação, não foi feita por todos os participantes, uma vez que a nota por eles obtida não costuma ser levada em conta em vestibulares concorridos, como o da Fuvest.
A média nacional do Enem de 2008 foi de 41,69 pontos, ante 51,52 pontos em 2007, e é considerada muita baixa pelos pedagogos. As notas variam numa escala de 0 a 100 e os resultados por escola e por município serão divulgados somente a partir de 2009.
Até os estudantes da rede privada de ensino médio tiveram este ano um desempenho bem inferior com relação ao ano passado. A nota nacional dos colégios particulares caiu 11,9 pontos, entre 2007 e 2008. No Distrito Federal, que hoje é o primeiro colocado entre as redes privadas no ranking do Enem, a nota dos colégios particulares caiu 8 pontos. Em Minas Gerais, que é a segunda colocada, a queda foi de 10,49 pontos. No Estado de São Paulo, onde a rede privada sempre esteve entre as melhores do País, a queda foi de 13,1 pontos, fato que os especialistas consideram preocupante.
“As escolas privadas têm investido para que seus alunos se saiam bem. O mercado é muito afetado pelos rankings do Enem”, diz Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, um dos mais conceituados da capital. “É um absurdo, é preciso analisar o que aconteceu”, afirma o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, José Augusto de Mattos Lourenço. “Em São Paulo, temos todo tipo de aluno na rede privada, inclusive classe C. Em outros Estados, somente a elite estuda nessas escolas”, explica o presidente do Conselho Estadual de Educação, Artur Fonseca Filho. Criado em 1998 e aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação, o Enem é um exame voluntário que avalia os alunos que estão concluindo ou já concluíram o ensino médio. Como a nota pode ser utilizada para ingresso em muitas faculdades e é essencial para seleção no Programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudo, ele é bastante disputado. Este ano, 2,9 milhões de estudantes – 77,5% dos quais oriundos da rede pública – submeteram-se ao Enem. Em São Paulo, foram 59.395 alunos de escolas particulares e 225.226 de escolas públicas.
Um dos fatores apontados pelos especialistas para o mau desempenho dos estudantes no Enem de 2008 está nas mudanças nas provas. Como várias questões da prova objetiva tiveram enunciados muito extensos, o teste teria sido mais difícil do que o de 2007, por exigir mais concentração e capacidade de leitura dos alunos. A direção do Inep também reconhece que o grau de dificuldade das provas mudou entre 2007 e 2008. Contudo, por maior que seja a cautela na comparação entre os resultados das últimas edições do Enem, uma coisa é certa: o ensino médio do País continua ruim e, mais grave ainda, sem qualquer perspectiva de melhoria, a curto prazo.
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