‘Check your head’, disco dos Beastie Boys completa 20 anos
Sem “Check your head”, talvez não houvesse um Planet Hemp, diz o rapper (e ex-Planet) BNegão. Ele é um dos muitos garotos que tiveram suas vidas mudadas por esse terceiro álbum do grupo americano Beastie Boys, que completa 20 anos de lançamento no dia 21.
No entanto, se esse inovador coquetel de rap, punk, jazz-funk dos anos 1970, reggae e latinidades afetou a vida de um brasileiro em especial, foi a de Mario Caldato, Jr..
Paulistano que foi criança para os EUA, ele estreou como produtor em “Check your head” e, por causa desse disco, acabaria produzindo trabalhos de grande sucesso de Jack Johnson, Manu Chao, Planet Hemp (e seu rapper, Marcelo D2), Marisa Monte e Seu Jorge.
De volta aos instrumentos
Engenheiro de som do disco anterior dos Beastie Boys, “Paul’s boutique”, de 1989, Mario foi convidado pelo grupo (formado pelos rappers brancos e novaiorquinos Mike D, MCA e Ad-Rock) para conduzi-los em um álbum “diferente”.
— Eles decidiram não fazer mais shows só para pensar no disco — conta o produtor, por telefone, de Los Angeles. — Em vez de gastar dinheiro com um estúdio caro em Hollywood, sugeri que eles comprassem equipamento e arrumassem um lugar para a gente gravar. Eles estavam de saco cheio de fazer rap e queriam tocar bateria, baixo e guitarra, os instrumentos da época em que faziam punk hardcore.
Tranquilos, com o dinheiro que ganharam com seu primeiro LP (“Licensed to ill”, de 1986, que então havia vendido 5 milhões de cópias), eles puderam passar três anos em Los Angeles concebendo “Check your head”.
De segunda a sexta, a rotina era: ir à noite para o estúdio montado por Mario, jogar basquete, andar de skate, ouvir discos de funk e aí tocar de improviso, tentando imitar aquele som.
— Mas eles eram bem limitados como músicos, era muito solto, só barulho — conta o produtor. — Só melhorou quando o Money Mark (amigo de Mario, que trabalhara como carpinteiro no estúdio) entrou na parada, tocando teclados e ajudando com os arranjos.
Aos poucos, Caldato foi descobrindo recursos inusitados, como “um microfone vagabundo de karaokê”, que distorcia o som e foi usado para gravar as vozes de “So wat’cha want” e “Stand together”.
Ele também gostava de abusar do eco (influência do mestre jamaicano do dub Lee Perry) e até incluiu uma brasileiríssima cuíca em “Lighten up”.
— Ela foi tocada por um cubano, o Juanito Vazques, que eu descobri numa loja de instrumentos — revela Mario.
No primeiro ano e meio de trabalho, o produtor e o grupo só trabalharam em faixas instrumentiais. Mas aí MCA (pseudônimo de Adam Nathaniel Yauch) apareceu com uma colagem com vários trechos sonoros (entre os quais o de uma obscura gravação de Jimi Hendrix, “Happy birthday”). Era o embrião do rap “Jimmy James”, que virou faixa de abertura do disco.
— “Check your head” foi uma bomba na cabeça da galera. Ele abriu uma porta no hip-hop para que se experimentasse com banda. E a parte rap dele é sujaça, com uns samples malucos e umas batidas bem pesadas — diz Edu K, líder do Defalla, banda gaúcha que, num incrível fenômeno de sincronicidade, usou o mesmo sample de “Happy birthday” na faixa que abre seu disco “Kingzobullshitbackinfulleffect92”, de 1992.
— O “Check your head” foi um disco catalisador para todos nós — conta Marcelo Yuka, que, na época, estava a um passo de montar O Rappa. — Antes dele, os estúdios eram uma coisa muito distante. Ver no encarte do disco a imagem daqueles garotos gravando e se divertindo com aquilo nos libertou e nos deu a autoridade para peitar os produtores e sair em busca do nosso som. A impressão foi a de que aquele era um disco que poderíamos ter feito. Afinal, nós ouvíamos as mesmas coisas que eles.
Produtor de Pitty e Raimundos, Rafael Ramos tinha 13 anos quando ouviu “Check your head” pela primeira vez.
— E não entendi nada. Ficava me perguntando: “Mas pode isso?” — confessa. — Já da segunda vez que ouvi, ele me ganhou para sempre. É um disco que não para, é informação nova o tempo todo. Até hoje.
— “Check your head” conseguiu reunir várias coisas diferentes, do hardcore mais pulsante ao funk mais lento, de uma forma fluida. É um dos discos que mais influenciaram a nossa geração — diz BNegão, que trabalhou com Caldato em dois CDs do Planet Hemp.
— Cara, foi uma era dourada! Era “Check your head” e o Cypress Hill dia e noite no discman! — recorda-se o DJ Marcelinho da Lua. — No final do disco, a faixa “Namasté” dava o relax do rolê de skate.
— A colaboração entre nós estava fluindo. Fazíamos uma coisa de que gostávamos e esperávamos que as pessoas fossem gostar. Mostramos que uma boa vibe é mais importante que um som perfeito e limpo — encerra Mario Caldato, pouco antes de entrar no último dia de mixagem do novo CD de Marcelo D2.
fonte: O Globo
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