Bicheiro Carlinhos Cachoeira teria pago R$3 milhões ao senador Demóstenes Torres
Gravações feitas pela Polícia Federal, na Operação Monte Carlo, fortalecem a estreita relação entre o senador Demóstenes Torres e o bicheiro Carlinhos Cachoeira para favorecer a Delta Construções.
Segundo a PF, o parlamentar não só recebia dinheiro do contraventor, como usou o mandato para impedir a convocação no Senado do ex-presidente da empresa Fernando Cavendish, em 2011.
E se valeu de sua influência para que a empresa fechasse negócios no Centro-Oeste. As gravações também indicam — e o procurador-geral da República Roberto Gurgel corrobora — que Cachoeira teria repassado ao parlamentar R$ 3,1 milhões.
A presença de Demóstenes em reuniões de trabalho teria sido indispensável para sacramentar contratos da Delta com o poder público.
A construtora chega a disponibilizar um jato para levar o senador de Brasília para Goiânia, onde receberia em seu apartamento o então diretor-executivo da Delta, Carlos Pacheco; o diretor regional da construtora, Cláudio Abreu e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
— Vê com o Demóstenes se dá pra ele chegar aqui umas três, quatro horas, no máximo, pra gente bater o martelo com o Pacheco no assunto entendeu. É um assunto com a Foz do Brasil, a Foz do Brasil é empresa da Odebrecht, concessão. Então, nós precisamos falar urgente com Demóstenes, aproveitando que o Pacheco está aqui. Urgente, urgentíssimo — disse Cláudio Abreu.
Por baixo dos panos, segundo a PF, Demóstenes Torres também deu o caminho das pedras para impedir a convocação de Cavendish no Senado, após reportagem da revista “Veja” vinculando o aumento dos contratos entra a Delta e o governo federal à contratação, pela Delta, de consultoria do ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
A articulação ocorreu em 8 de maio de 2011. Demóstenes tranquiliza Carlinhos Cachoeira, dizendo que Cavendish não pode ser convocado, e manda avisar o empresário que é preciso abafar o caso, rapidamente.
O senador prevê que a reportagem será o “o grande assunto no Congresso”, mas pondera que, no máximo, ele será convidado, com a possibilidade de não comparecer.
— (Tem que) avisar o pessoal que tá todo mundo em cima. E o que vai acontecer? Vão fazer um requerimento. Requerimento é convite. O cara (Fernando Cavendish) pode recusar. (…) Eles (Álvaro Dias e outros senadores de oposição) vão fazer barulho — explica Demóstenes a Cachoeira.
Adiante, na mesma conversa, Demóstenes dá a senha para abafar o caso:
— Talvez, o Fernando se antecipasse soltando uma nota. Dizendo que isso é uma mentira. O grande assunto no Congresso vai ser isso. Explique que o convite não vai ser aprovado, mas o barulho é inevitável.
De pronto, Cachoeira responde:
— Eu vou falar isso com ele (Cavendish ou Cláudio Abreu). Tá bom.
Minutos depois, Cachoeira liga para o ex-superintendente regional da Delta, Cláudio Abreu, e repassa as instruções de Demóstenes.
— Fala com o Fernando que o Álvaro Dias vai pedir a convocação dele lá. Tem que botar o mais rápido possível (…) para não alastrar.
O advogado de Demóstenes Torres, Antônio Carlos de Almeida Castro, vem argumentando que não pode comentar trechos pinçados e descontextualizados de gravações da PF. Nesta sexta-feira, foi procurado no celular e no escritório, mas não foi encontrado.
Em nota, a Delta informou que “não teve acesso a essas gravações nem todo, nem em parte” e que “tem sido informada de partes editadas e manipuladas de conversas que saem na mídia”. Portanto, não vai se pronunciar sobre o assunto.
A empresa diz ainda que “é vítima de vazamentos parciais e descontextualizados de áudios saídos de interceptação telefônica de um inquérito sigiloso”.
A cifra atribuída como pagamento total ao parlamentar alcança R$ 3,1 milhões.
No pedido de instauração de inquérito no Supremo para investigar Demóstenes, vazado nesta sexta-feira pelo site de notícias “Brasil 247”, Gurgel afirma que há indícios da prática dos crimes de corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa por parte do senador goiano, fruto de seus “estreitos vínculos” com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Sustenta que a relação de Demóstenes com o contraventor, mais do que amizade, “é de natureza profissional” e “extrapola os limites éticos exigíveis na atuação parlamentar, adentrando a seara penal”. Gurgel confirma, em sua denúncia, que Cachoeira depositou mais de R$ 3 milhões nas contas de Demóstenes.
A autenticidade dos documentos vazados pelo site 247 não foi contestada pelo STF nem pela Procuradoria Geral da República.
“Constatou-se que o Senador Demóstenes Torres mantém estreitos vínculos com Carlos Cachoeira, de natureza pessoal e, também, de natureza profissional.
Os contatos telefônicos entre eles são praticamente diários, sucedidos, muitos deles, de encontros para tratar de assuntos que não poderiam ser conversados por telefone”, afirmou Gurgel no documento.
Sobre os repasses de Cachoeira para Demóstenes, o procurador geral escreveu: “Em diálogo no dia 22 de março de 2011, às 11:18:00, entre Carlos Cachoeira e Cláudio Abreu, não degravado pela autoridade policial, é expressamente referido que o valor de um milhão foi depositado na conta do Senador Demóstenes e que o valor total repassado para o Parlamentar foi de R$ 3.100.000,00 (três milhões e cem mil reais)”.
A assessoria de Gurgel informou que ele está no Chile, em viagem oficial, e que não teria como confirmar a veracidade do documento vazado. A assessoria acrescentou que o Ministério Público lamenta o vazamento.
Em diálogo de 16 de março no ano passado, Demóstenes diz que basta Cachoeira dar a orientação para que ele obedeça:
— Você dá a orientação aqui e obedece — diz Demóstenes ao bicheiro.
fonte: O Globo
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