Greve dos professores federais ameaça pós-graduação, bolsas e intercâmbio de alunos das federais
A greve de professores e de servidores das universidades e de institutos federais de ensino superior vai completar esta semana um mês e meio desde o seu início, em 17 de maio.
A demora para se chegar a uma resolução do impasse entre os docentes e o governo preocupa muitos estudantes que dependem da conclusão do cursos para serem efetivados em estágios, residências médicas, programas de intercâmbio e outros compromissos.
A categoria dos docentes pleiteia carreira única com incorporação das gratificações em 13 níveis remuneratórios, variação de 5% entre níveis a partir do piso para regime de 20 horas correspondente ao salário mínimo do Dieese (atualmente calculado em R$ 2.329,35), e percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho.
Com a greve, os planos da estudante de engenharia química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Amanda Galindo estão ameaçados.
Sem previsão de retornar às salas de aula, ela teve que abrir mão de estagiar em uma companhia de bebidas e, agora, teme perder a vaga na pós-graduação do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), para a qual já está aprovada, mas precisa estar com a graduação concluída até janeiro de 2013.
“Eu terminaria o curso no final do ano, mas agora não sei o que vai acontecer. Foi um concurso bastante concorrido e, se eu perder a bolsa, ano que vem não vou ter com o que me sustentar. Vou depender apenas dos meus pais”, afirma Amanda.
“Fiz muitos planos, só não contava com a greve. Sei que ela é necessária. Os professores nos explicaram sobre a luta deles, e a considero válida. Acho que o governo deveria agir mais rápido para não nos prejudicar.”
A estudante, inclusive, participou de uma mobilização por melhor infraestrutura no seu curso.
“Nosso departamento é pequeno para a quantidade de alunos. Temos apenas um banheiro. Não temos biblioteca e os laboratórios são horríveis”, comenta.
Em nota, a UFPE diz que “dentro de seu planejamento, está recuperando os laboratórios de todos os cursos, principalmente os mais antigos. O projeto é deixar todos eles renovados, usando recursos da Universidade, do Reuni e de parceiros, como a Finep. No próprio Departamento de Engenharia Química, há outros laboratórios em pleno funcionamento, como o de Combustíveis, que foi reformado com recursos da Petrobras”.
Residência ameaçada
Em Sergipe, o estudante do 11º período de medicina, Marcel Figueiredo Fontes, teme não poder fazer residência no início do ano que vem por causa da greve. Além disso, ele corre o risco de participar da cerimônia de colação de grau e ter que continuar assistindo as aulas.
Mais de um mês de greve já atrasou o fim das aulas e estágios da turma de medicina de 2007 da Universidade Federal de Sergipe (UFS) que encerrariam o curso no dia 11 de janeiro de 2013. As cerimônias de formatura marcadas para acontecer entre os dias 13 e 16 de fevereiro terão que ser mantidas por conta das multas por quebra de contrato e falta de opções de data para remarcar os eventos.
“Começamos a pagar a festa de formatura ainda no primeiro ano do curso e as parcelas vão até janeiro do ano que vem. Está bem longe do que esperávamos participar da festa e ter que voltar à rotina universitária na segunda-feira seguinte”, lamenta o futuro médico.
O impasse na esfera nacional ainda causa um transtorno maior aos 55 alunos da turma. As provas de residência médica (especialização) acontecem somente uma vez por ano no período de novembro a janeiro e o estudante deve assumir a nova atividade no dia 1º de março de 2013. Para isso, é preciso ter o diploma em mãos para comprovar os conhecimentos.
“A greve já prejudicou a gente, mas ainda daria para contornar a situação se tivesse acabado no dia 19 de junho quando deveria ter tido uma reunião entre o Governo Federal e os professores”, diz o estudante.
“Mas se ela continuar por mais três semanas nós vamos ter que adiar a especialização por pelo menos um ano. Há rumores que a greve só encerre em agosto”, afirma Marcel Figueiredo.
Sem a bolsa-estágio
A universitária Mariana Muchon conquistou uma vaga de estágio em Belo Horizonte, mas não conseguiu regularizar o contrato de trabalho. Informalmente, ela está desempenhando algumas funções na empresa em que foi selecionada, mas não pode receber a bolsa-estágio.
Ela é aluna no sexto período de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde os servidores administrativos estão em greve.
“Eu preciso de uma assinatura e não encontro ninguém no setor. Todas as vezes que fui dei de cara com a porta”, disse.
Segundo Mariana, a greve começou no dia seguinte em que entregou a documentação na universidade. Desde então, não conseguiu pegar de volta os papéis e apresentar na empresa. Já faz um mês e meio, e ela não pode contar com o salário.
“Eu já tinha me programado, estou contando com o dinheiro para uma viagem de intercâmbio, onde quero estudar dança por três meses”, disse.
A estudante diz que achou o processo muito burocrático e ficou desiludida.
“É um desrespeito. Fiquei meio perdida, porque fui até o colegiado e não consegui falar com coordenadora do curso. Nesse meio tempo, houve uma mudança na coordenação, o que só foi informado aos alunos ontem”, falou.
Mariana diz que procurou o setor por várias vezes, a última na semana passada.
A greve dos servidores técnico-administrativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começou no dia 21 de maio. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino de Belo Horizonte (Sindifes), a principal reivindicação da categoria é a flexibilização da carga horária de 40h para 30h semanais e a não implantação do ponto eletrônico.
No dia 11 de junho, a categoria começou a apoiar uma mobilização nacional, incluindo na pauta de reivindicação o reajuste salarial e a revisão no plano de carreira. Segundo o sindicato, o menor salário pago é de R$ 1.080, e a categoria pede que o menor piso seja equivalente a três salários mínimos.
Como são mais de 200 cargos, divididos em cinco níveis, o salário-base pode varia até cerca de R$ 2,8 mil, informou a assessoria do sindicato.
fonte: Luna Markman, Marina Fontenele e Flávia Cristini
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