Como um ex-garçom transformou carro usado em negócio de R$ 1,4 bilhão
Após prosperar com a Sapore, Daniel Mendez quase sucumbiu à crise de 2008 e precisou se reinventar para voltar a crescer
Em 1973, uma família uruguaia que procurava por um mercado mais amplo desembarcou no Brasil. Entre os imigrantes estava o pequeno Daniel Mendez, de 11 anos. Depois de 19 anos, em 1992, ele viria a fundar a Sapore, empresa de refeições coletivas que faturou R$ 1,4 bilhão em 2015 e hoje serve um milhão de refeições por dia.
“O Uruguai é um país pequeno. Eles não são preparados para o mercado, principalmente naquela época. Saiu muita gente. Brasil, Austrália e Canadá estavam abertos. Minha mãe queria ir para o Canadá, mas meu pai preferiu o Brasil por ser mais perto”, diz Mendez, em entrevista ao iG.
A família escolheu o Rio Grande do Sul, o Estado mais próximo do Uruguai, para se instalar. Quando vivia no município de Jaguarão, Mendez cruzava todos os dias a fronteira para ir à escola em seu país natal. A caminhada era longa e durava cerca de uma hora.
Aos 13 anos, já trabalhava com seu pai, que era dono de restaurantes na cidade gaúcha. Atuava como garçom e começou a pegar gosto em lidar com o público. No longo caminho antes de fundar a Sapore, no entanto, passou por outros ramos que não o deixavam completamente satisfeito. “Fui para Porto Alegre, trabalhei em hotel e supermercados. Fui crescendo profissionalmente, mas gostava muito de trabalhar com público, com restaurante”, conta.
Apesar de estar caminhando bem no setor de supermercados, Mendez queria ganhar um salário melhor. Foi isso que o motivou a trocar de ramo e resultou em uma nova mudança de estado: “Eles não pagavam muito bem, então fui para uma empresa de alimentação e acabei parando em São Paulo”.
Já instalado em Campinas, Mendez começou a amadurecer a ideia de abrir um negócio próprio. Na época com 28 anos, o uruguaio ganhava “consideravelmente bem” – como ele próprio define –, mas gastava na mesma proporção em que recebia. Então, para conseguir dar início à Sapore, foi necessário fazer um sacrifício: vender seu Gol GTI, o “carro do ano” àquela altura.
Aos 30 anos, Mendez finalmente conseguiu inaugurar sua empresa. Devido ao longo tempo de trabalho no setor de alimentação, o empresário já tinha contatos importantes no meio, mas, mesmo assim, não foi nada fácil encontrar companhias interessadas em seus serviços. O uruguaio preferiu não procurar por nenhum dos clientes de sua ex-empresa, pois não considerava uma atitude ética.
“Fiquei batendo de porta em porta durante quase três meses. Todo mundo tinha muito respeito, mas, mesmo assim, foi muito difícil (…) eu colocava terno e gravata para parecer mais velho e conseguir fazer negócios. Estes três meses foram muito complicados”, explica.
A competência comprovada pelos clientes de sua ex-empresa, no entanto, abriu portas para que o empreendedor ganhasse credibilidade e conseguisse se inserir no mercado após esse primeiro período: “Eu conhecia muito o segmento e o segmento me conhecia”. Assim, os primeiros clientes começaram a surgir – alguns deles, inclusive, seguem trabalhando com a Sapore até hoje. Ao final do primeiro ano, já eram sete clientes e seis mil refeições por dia.
O negócio do Mendez, a partir de então, começou a prosperar. Entretanto, antes de alcançar seus melhores resultados, a Sapore precisou enfrentar a crise financeira que atingiu todo o planeta entre 2008 e 2009 e obrigou a empresa a mudar todo o seu modelo de trabalho e a maneira de encarar o mercado. “Na época fiquei super chateado, me senti injustiçado, mas o maior aprendizado que a gente teve com crise foi dessa vez. O aprendizado dói, mas ele fortalece muito. Foi um momento de grandes avanços, melhorias, oportunidades e amadurecimento”, diz Mendez.
Para superar as dificuldades, o empresário precisou fazer cortes e remanejar cargos dentro da empresa. “Pessoas antigas, que estavam lá há mais de 10 anos, estavam muito de acordo com o modelo anterior de trabalho. O mais importante disso tudo é que eu realmente fui um dos que mais cresceram com essa fase. Entendi que devia passar a escutar mais os outros”, conta o empreendedor.
Uma das mudanças mais importantes no trabalho da empresa foi ter deixado de comprar peças inteiras de alcatra, por exemplo, e passado a comprar o alimento já cortado. Essa simples atitude resultou em grande economia, pois reduziu o tempo de trabalho dos funcionários. Mendez afirma que a Sapore consegue produzir o mesmo que outras empresas com até 24% menos funcionários. Além disso, a alcatra cortada também gera economia de água, pois facilita a lavagem e diminui o desperdício.
Com estas medidas, a Sapore conseguiu se reerguer a partir de 2011. Logo no ano seguinte, teve o maior crescimento de sua história: a receita líquida passou de R$ 900 milhões para R$ 1 bilhão e marcou a virada da empresa que, atualmente, é a maior do segmento na América Latina, segundo o empresário.
A expectativa para 2016 é de crescimento de 5% no faturamento. Em janeiro, a Sapore já deu os primeiros passos para alcançar o objetivo e firmou 50 novos contratos, mas, em contrapartida, perdeu alguns dos antigos. O empresário uruguaio é sincero ao admitir que os dias são difíceis, mas sabe que “é preciso entender o momento de cada um dos clientes” e usa o aprendizado da crise anterior para superar mais uma fase de turbulência.
Fonte: Brasil Econômico/Seu Negócio
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