“Foi ironia”: líder supremacista branco explica saudação de ‘Hail, Trump’

"Foi ironia": líder supremacista branco explica saudação de 'Hail, Trump'

“Foi ironia”: líder supremacista branco explica saudação de ‘Hail, Trump’

Richard Spencer, criador do grupo radical de direita ‘alt-right’, fala sobre suas ideias polêmicas e a criação de um Estado só para brancos; leia a entrevista

Nos últimos dias, Richard Spencer tem sido notícia nos Estados Unidos, especialmente depois de gritar “Hail Trump” (“Viva Trump”) durante uma conferência em Washington, organizada pela ‘alt-right’ (abreviação de “alternative right”, “direita alternativa”, em português), grupo radical acusado de ser racista, xenófobo e antissemita.
O presidente eleito Donald Trump repudiou a atitude do movimento. Em entrevista ao jornal The New York Times, disse que não quer incentivar o grupo.
“Eu os condeno e repudio”, declarou.
Embora Trump não tenha endossado o movimento da extrema-direita, pessoas com esse tipo de visão política se sentiram encorajadas pelo resultado da eleição presidencial por ver no empresário um defensor de bandeiras nacionalistas.
Spencer, que preside o National Policy Institute (um centro de estudos que ele mesmo criou), sustenta que o movimento do qual é líder e ideólogo e a candidatura de Trump foram animados por um sentimento comum de “desapropriação” dos brancos nos EUA.
“Talvez Donald Trump não entenda por que foi eleito”, disse, em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Spencer foi indagado sobre suas ideias de identidade, raça, imigração, bem como a criação de um estado nacionalista branco e a sua polêmica saudação.
“Foi um momento de exuberância”, explicou, sobre a expressão “Hail Trump”, que lembra o “Heil Hitler” da Alemanha nazista – e que foi repetida por alguns participantes da reunião de Washington. Eles fizeram também saudação com o braço direito estendido, como os nazistas.
A seguir, a conversa com Spencer, que tem 38 anos e é frequentemente acusado de racismo e de liderar um movimento neonazista. Que parece estar ganhando força.
No início da entrevista ao New York Times, Donald Trump negou que quisesse ou queira encorajar o movimento ‘alt-right’ e disse que o repudia. Como você reage a isso?
Richard Spencer – Donald Trump e o movimento ‘alt-right’ têm sido, de certa forma, animados pela mesma coisa: a desapropriação dos europeus na América do Norte e em todo o mundo. O coração do movimento de Donald Trump não era simplemente a sua personalidade ou excentricidade. Havia uma sensação emergente entre os europeus nos EUA de que estamos perdendo nosso futuro, nossa cultura, nossa sociedade, nossas cidades. E que nossos sonhos e esperanças estão sendo cortados.
E isto também está no coração da “alt-right”. Há uma diferença no sentido de que a “alt-right” é uma vanguarda intelectual enquanto Donald Trump é um político populista. Há um vínculo emocional entre o movimento Trump e a ‘alt-right’, sem dúvida. Há um vínculo direto? Tenho visitado Donald Trump? Não.
Mas Trump diz que gostaria de entender por que vocês se sentem encorajados. Por que você acha que ele não reconhece o que vocês dizem?
Não creio que Donald Trump realmente entenda muito das ideias e filosofias da “alt-right”. O que ele viu basicamente é um vídeo que foi exibido no site da revista The Atlantic e no qual apareço dizendo “Heil Trump” de uma maneira muito irônica e algumas pessoas respondendo com uma saudação firme. Isso provavelmente é tudo o que ele sabe da gente. Nesse sentido, sim, não quer ser associado a isso. Ele não se informou sobre de onde vem intelectualmente o nosso trabalho e espero que o faça.
Você está sugerindo que talvez ele não entenda por que foi eleito?
Talvez Donald Trump não entenda por que foi eleito. Definitivamente não foi uma eleição sobre ele. Concordo que Trump é sui generis, um político especial, que talvez nunca possa ser reproduzido. Mas o pano de fundo histórico da sua eleição não foi simplesmente o fato de ele ser essa estrela imobiliária e de reality show que é uma celebridade e é bastante divertida, grandiloquente.
O contexto histórico para o seu movimento – e foi mesmo um movimento – foi basicamente que os americanos brancos sentiam que estão perdendo o controle da sua civilização e da sociedade.
Você mencionou o momento da conferência da “alt-right” no fim de semana em que você saudou o público dizendo “hail Trump, hail nosso povo, hail vitória!” e várias pessoas na sala responderam com a saudação nazista. O que você sentiu naquele momento?
Foi um momento de exuberância. Certamente foi um momento de ironia. Para entender a cultura “alt-right”, é preciso entender o nosso humor, ironia e irreverência. Esse é o lugar de onde vem aquela declaração.
Como alguém pode ser irônico ou engraçado ao fazer a saudação nazista no século 21?
Onde quer que exista um autêntico ou genuíno movimento em defesa da identidade europeia, imediatamente ele será chamado de nazista e de KKK (iniciais da organização supremacista Ku Klux Klan)… Acho que muita gente quer jogar isso na cara dos meios de comunicação e mandar que eles, digamos, se danem. É isso.
Certamente, eu diria: um movimento do passado, que está definido pelo passado, não vai a lugar algum. Precisamos ser um movimento de 2016.
Mas você também disse no fim de semana: “Vamos festejar como se fosse 1933″…
Não, eu disse “vamos festejar como se fosse 2016”. Posso fazer um comentário sarcástico, mas não precisamos dizê-lo.
Você entende que a resposta ao seu “Hail Trump, hail vitória” e tudo isso soa como na Alemanha dos anos 1930. Mas depois houve a Segunda Guerra Mundial e o mundo sente que evoluiu desde então. Você sente o mesmo?
Claro que o mundo evoluiu. Parece muito diferente do que era nos anos 1920 e 1930. Como disse, se somos simplesmente um movimento baseado no passado, vamos ficar presos no passado. É muito importante que não estejamos presos no passado e sejamos um movimento para 2016 e o futuro.
Mas vocês tomam como referência para olhar o futuro a Alemanha dos anos 1930 e o partido nazista…
Não, não queremos reproduzir a Alemanha nazista. Isso é um movimento do passado e que não nos ajuda e não vai a parte alguma.
É um movimento do passado que você condena?
Claramente todo o período foi um desastre.
Mas o que você pensa das crenças do partido nazista? Também foram um desastre ou você pode encontrar uma inspiração nelas?
Em termos de crenças na raça ou importância de um povo, essas não são ideias exclusivas de Hitler. Todos os contemporâneos de Hitler, muitos dos inimigos de Hitler, também acreditavam que a raça é real e que era muito importante definir a que grupo da população se pertencia. Não sei como responder a isso.
Mas claramente você não condena o partido nazista, suas crenças e ações…
Não é minha crença. É um momento da história, não há nada a ganhar com a simples condenação desses movimentos. Foi assim que o Ocidente condenou Stalin (o líder comunista soviético), a esquerda e a direita condenaram Mao (o líder comunista chinês)… É um movimento da história. Temos que repensar nossas ideias no momento, pensando no futuro.
Quais são suas expectativas para o governo Trump?
Donald Trump pode fazer algumas coisas maravilhosas, particularmente na política externa, onde o presidente não precisa do Congresso para atuar. Vamos viver em um mundo mais pacífico porque Donald Trump foi eleito.
Mas o que vocês estão esperando que ele faça?
Obviamente o muro (na fronteira com o México) e que seja duro com a imigração ilegal. Essas são coisas que ele prometeu e estão na base do seu movimento. Em termos de política doméstica, não creio que a política migratória de Donald Trump vá suficientemente longe. O que precisamos não é só de pulso firme com a imigração ilegal. Precisamos de uma restrição séria da imigração legal. Acho que (Trump) poderia estar aberto a isso.
Como ele poderia restringir a imigração legal se ela é legal?
Agora temos políticas que expandem a imigração legal e aumentam o número de pessoas não brancas que emigram para este país. Mudar isso é uma questão de política.
E mudaria as leis que permitem que as pessoas venham aqui, algumas para estudar, outras porque são boas profissionais contratadas por empresas americanas?
Correto. Infelizmente, inclusive se uma empresa quer contratar essas pessoas, isso não significa necessariamente que deveríamos permiti-las aqui. Há um bem comum que é maior e mais importante que o bem individual perseguido por esses atores.
E qual é esse bem comum?
O bem comum de proteger o nosso povo em uma civilização compartilhada.
A vitória de Donald Trump não era o objetivo final de vocês…
Absolutamente não.
Qual é o objetivo final?
Criar uma consciência entre europeus-americanos. Essa é minha meta de vida.
Também quer criar um “etnoestado” que separe as minorias…
O que espero no futuro seria a criação de um “etnoestado” que sirva para toda a população europeia, que protegeria sua civilização, sim.
E como faria isso?
Não sei, não sei como a história vai se desenrolar. É um ideal que espero que tenhamos, que nos motive.
Como definir quem exatamente entra na chamada “família branca”?
Raça é um conceito coerente. Não é um problema determinar a realidade biológica da raça.
E se um hispânico ou afro-americano quiser ser parte desse Estado, seria aceito?
Simplesmente não é possível.
Por quê?
De novo, estou falando de um Estado para o futuro. Isto não é os Estados Unidos de Donald Trump, não é o que está acontecendo agora. É um ideal para o futuro ter um estado que seja para toda a extensão da nossa família e para toda a nossa civilização.
Qual o problema com os hispânicos nos EUA? É a sua raça? Seu comportamento?
Não creio que possamos separar ambas as coisas. Não creio que o comportamento ou a cultura sejam tradições aleatórias arbitrárias, sem conexão com a biologia. Hispânicos se comportam de uma forma que pode derivar da sua identidade racial.
Mas você acredita, por exemplo, que entre os hispânicos a taxa de criminalidade é maior do que entre os brancos? Porque há estudos que indicam que isso é um erro…
Sim, os hispânicos têm muitas taxas mais altas de todo tipo de disfunção social. As sociedades onde há hispânicos na América do Sul têm muitos mais crimes, maior índice de pobreza, de disfunções sociais, do que as sociedades brancas.
Você acredita nisso, embora existam estudos como o de Ron Unz (empresário americano conhecido por suas posições conservadoras), que dizem que você está errado?
Ainda que você concorde com Ron Unz no sentido de que estas populações de imigrantes têm taxas de criminalidade menores que a população branca, o que inclui certamente os africanos e outros hispânicos, isso não anula necessariamente nada do que eu disse em termos de diferenças raciais. Há sérias diferenças nos crimes e comportamentos entre Brasil e Dakota do Sul. E essas diferenças derivam da raça.
Há vários crimes de ódio denunciados depois da eleição de Donald Trump, com suásticas e o slogan ‘Make America White Again’ (em inglês ‘Fazer a América Branca Novamente’) pintados em paredes, gente agredida por causa da aparência, pelo que é ou por suas crenças. Como você se sente a respeito?
Não apoio nenhum tipo de violência.
Mas como você pode garantir que gente do seu movimento não esteja fazendo ou promovendo este tipo de crime de ódio, inclusive por algumas das ideias em que você acredita?
Obviamente não posso policiar todos os que assistiram à conferência. Em termos de violência, houve mais atos violentos cometidos contra nós, do que cometemos contra alguém. Não sei se alguém da conferência cometeu algum ato violento. No entanto, na conferência havia uma pessoa com o rosto sangrando, jogaram spray numa mulher e em mim… A violência está dirigida contra nós.

Quando você coloca as coisas em termos de “luta pela sobrevivência”, não acha que alguns integrantes do seu movimento podem sentir-se inspirados em recorrer à violência?
O que estamos fazendo agora é criar consciência. Estamos numa luta, mas é uma luta sem balas, em que não envolvemos sangue de nenhum tipo. Estamos em uma espécie de luta ideológica e espiritual. Que eu saiba, ninguém da “alt-right” se envolveu em nenhum tipo de violência. E você me pergunta se acho que estou dizendo coisas que conduzem à violência. Não.
Você entende por que tanta gente neste país sente medo de grupos como o movimento “alt-right”?
Entendo por que algumas pessoas têm medo. Há muitas ideias equivocadas sobre o nosso movimento. Mas, de certa forma, entendo por que têm medo. Há pessoas que têm poder agora, que vão ter menos poder se as ideias da “alt-right” forem adotadas.
Fonte: Último Segundo/Mundo/BBC BRASIL


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