Em áudio divulgado pela PF, empresários decidem usar cabeça de porco em linguiça
Operação Carne Fraca tem como alvo empresas como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e a JBS, dona da Seara e da Friboi
Após a deflagração da Operação Carne Fraca, nesta sexta-feira (17), a Polícia Federal (PF) divulgou gravações telefônicas que apontam o envolvimento direto de diretores e donos das empresas em fraudes de fiscalização em frigoríficos brasileiros. Em uma delas, inclusive, é possível identificar práticas ilegais como a inserção de papelão em lotes de frango e de carne de cabeça de porco na linguiça.
A Operação Carne Fraca investiga uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio . De acordo com a PF, os fiscais – que contavam com a ajuda de servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Paraná, Goiás e Minas Gerais – se utilizavam dos cargos para, mediante propinas, facilitar a produção de alimentos adulterados por meio de emissão de certificados sanitários sem que a verificação da qualidade do produto fosse feita.
A operação envolve grandes empresas, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, dona não só da Seara, da BigFrango e da Friboi, mas também de outras empresas e de frigoríficos menores, como Mastercarnes e Peccin, do Paraná.
O delegado Moscardi Grillo confirmou que ao menos três executivos da BRF e dois da JBS foram presos na manhã desta sexta. O delegado explica que, ao longo das investigações, iniciadas em 2015, quase 40 empresas foram autuadas pela PF e os investigadores não encontraram nenhum frigorífico onde não havia “problemas graves”. Moscardi Grillo chegou a afirmar que as empresas adulteravam a carne para disfarçar o mau-cheiro do produto.
A Polícia Federal pediu a interdição de ao menos um frigorífico da BRF no interior de Goiás, onde foram constatados indícios da presença da bactéria salmonela
Carne de cabeça
Em um dos áudios gravados com autorização judicial e divulgados nesta sexta-feira, Idair Antônio Piccin, dono do frigorífico Peccin, e Nair Klein Piccin, sua mulher e sócia conversam sobre o uso de carne proibida em lotes de linguiça. Ambos tiveram pedidos de prisão preventiva decretados pela Justiça Federal. Confira um trecho da conversa:
Idair – Você ligou?
Nair – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
Idair – É.
Nair – Ele quer te mandar 2 mil quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
Idair – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
Nair – Ele vendia a R$ 5, mas daí ele deixa a R$ 4,80 para você conhecer, para fechar carga.
Idair – Tá bom, mas vamos usar no que?
Nair – Não sei.
Idair – Aí que vem a pergunta, né? Vamos usar na calabresa, mas aí, é massa fina é? A calabresa já está saturada de massa fina. É pura massa fina.
Nair – Tá.
Idair – Vamos botar no que?
Nair – Não vamos pegar então?
Idair – Ah, manda vir 2000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina.
Nair – Na linguiça?
Idair – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça.
Nair – Tá, seria só 2000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho.
“A carne é fraca”
O nome da Operação Carne Fraca faz referência à expressão popular “a carne é fraca” a fim de demonstrar a fragilidade moral dos agentes públicos envolvidos nas fraudes e que “deveriam zelar e fiscalizar pela qualidade dos alimentos fornecidos à sociedade”, diz a nota da PF.
Fonte: Último Segundo/Brasil/Ig. São Paulo
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