Conheça o mercado da indústria de games no Brasil

OutLive foi um dos maiores games já desenvolvidos no Brasil e o primeiro a ganhar reconhecimento mundial, isso lá nos idos do ano 2000. Desde seu lançamento, ou mesmo antes dele, muito se falou sobre a indústria nacional de games, mas pouco foi realmente visto durante todos esses anos.

games no brasil

Felizmente, recentemente projetos grandiosos como o jogo espacial online para múltiplos jogadores Taikodom e a chegada de companhias importantes dos games ao país, como a Ubisoft, mostraram que a coisa realmente anda, mesmo que a passos de tartaruga.

Durante os últimos anos, muitas empresas independentes de games surgiram por aqui, aproveitando a demanda por jogos simples, disponíveis no celular ou na web. Uma dessas empresas, que surgiu como um estúdio de animação e hoje trabalha em diversos títulos, dentre eles um jogo para o portátil DS, da Nintendo, é a Abdução. O Terra Games bateu um papo com o sócio-diretor Daniel Garcia sobre a atual situação da indústria no Brasil e as dificuldades enfrentadas tanto pelos criadores independentes quanto por quem deseja iniciar a carreira no desenvolvimento de games.

Terra Games: O que é a Abdução? Quais são os projetos que vocês trabalham no momento?

Daniel Garcia: Estamos finalizando um jogo de PC em desenvolvimento há três anos, voltado à crianças entre seis e 10 anos. Trata-se de um projeto encomendado por uma ONG de São Paulo. Não é um jogo “AAA” (termo designado para projetos de grande orçamento), mas é um jogo com qualidade muito superior a que estamos acostumados a ver no Brasil.

Também estamos finalizando um jogo de esporte para DS, com previsão de lançamento para março ou abril, para uma produtora inglesa, a qual já possuía as versões para consoles do mesmo título e nós ficamos encarregados pela versão portátil.

Estamos também sempre trabalhando em protótipos nossos. Atualmente temos quatro protótipos de jogos, dois para a PlayStation Network e Xbox Live Arcade e dois para o Nintendo DS. Todos são propriedades intelectuais nossas e que estamos tentando emplacar com distribuidoras.

Terra Games: O que a chegada das grandes produtoras ao Brasil, como Ubisoft e Activision, muda para os desenvolvedores independentes como vocês?

Daniel Garcia: Quando começamos, há quatro anos, o mercado era muito escasso em mão de obra, portanto tivemos que contratar pessoas sem experiência nenhuma e treinar, tudo com salário. O anúncio da Ubisoft no Brasil me causou um pouco de medo. Pensei “eles virão e vão roubar a galera que estamos criando nas nossas empresas”. Felizmente, isso não aconteceu. Nenhum dos nossos colaboradores foi para a Ubisoft ou Electronic Arts, ainda que isso possa acontecer no futuro.

Minha opinião quanto a isso mudou por que a chegada dessas empresas não nos atingiu diretamente. Além disso, elas trazem coisas boas à indústria de games brasileira. Antigamente, quando alguém queria trabalhar com games no Brasil, abria-se uma empresa. Então, você tinha trinta empresas de jogos compostas por aproximadamente duas ou três pessoas cada – que seriam ótimos profissionais para eu contratar ou para empresas como a Electronic Arts ou a Ubisoft contratarem – mas que, possivelmente, nem tinham aquele espírito empreendedor, e sim, apenas uma vontade de trabalhar com games. Contudo, esta era a única opção que essas pessoas encontravam para realizar o sonho de trabalhar com games.

Quando você abre uma empresa, você não vai apenas fazer seu jogo. Você precisa cuidar de dinheiro, gerenciar projetos, pagar funcionários, entender de mercado financeiro etc. Enfim, a pessoa precisará entender de uma série de coisas que nem sempre correspondem com seu perfil. Agora, se você possui o espírito empreendedor, abra sua empresa e mande bala.

A chegada das grandes produtoras de games no Brasil abre o mercado para essas pequenas empresas. Além disso, eles têm ótimos processos de produção e ver sua colaboração em um jogo sendo lançado em nível mundial é muito gratificante.

Bem ou mal, essas grandes empresas são ótimos contatos para os desenvolvedores independentes poderem mostrar seus projetos. Mesmo que elas não possam fazer nada por nós, elas podem nos indicar pessoas de produtoras internacionais, que podem nos ajudar de alguma forma.

Terra Games: Qual o melhor caminho para iniciar uma carreira na indústria de games no Brasil?

Daniel Garcia: Estudar muito. Estudar e criar. Não adianta pensar grande. Você não vai fazer os próximos Gears of War ou Metal Gear. Faça uma coisa pequena, que você tenha controle. “Ah, mas eu não sei programar”. Faça algum jogo que você consiga experimentar em papel. Mude a regra. Pegue o Banco Imobiliário e mude as regras do jogo. Isso é um ótimo exercício de game design.

Terra Games: O que você acha do surgimento repentino de dezenas de cursos de graduação de design e criação de games que aconteceu nos últimos quatro anos?

Daniel Garcia: Existem muitas cadeiras nas faculdades para poucas vagas no mercado de trabalho. Acho que é algo parecido com o que aconteceu com o mercado de publicidade há alguns anos. Formava-se muita gente para poucas vagas no mercado. Eu apóio o surgimento dos cursos de games, acho que o mercado tende a crescer, mas acredito que a curva de crescimento será mais lenta que a quantidade de cursos de graduação que aparecem a cada ano.

Terra Games: Qual é o caminho mais fácil para entrar na indústria de games? Ir para o exterior, onde há demanda por trabalho ou procurar vagas nas nas empresas que existem por aqui?

Daniel Garcia: Para ir para o exterior, você precisa ter um mínimo de experiência, e isso você vai precisar adquirir por aqui. Todas as pessoas que eu conheço que estão trabalhando no exterior, inclusive em estúdios grandes, como Electronic Arts e Bioware, são pessoas que adquiriram experiência profissional por aqui. Algumas eram donas de suas próprias empresas e tentaram a chance lá fora e outras, no caso de artistas, já trabalhavam em estúdios de animação. Acho que se o cara for para o exterior com a intenção de estudar e começar a carreira por lá, é muito mais fácil. Agora, uma pessoa que se gradua aqui, nunca trabalhou e vai para o exterior em busca de emprego… não sei, pode ser até que ocorra, mas acho bem difícil.

Terra Games: Há anos vemos a mídia nacional alardeando alguns projetos de games desenvolvidos por aqui e poucos meses após o lançamento, ele cai no esquecimento e é considerado um fracasso. O que acontece com esses jogos? O que os desenvolvedores fizeram de errado?

Daniel Garcia: É uma opinião pessoal: acho que falta dimensionamento. É aquela velha história de pensar muito grande. Acho que o mercado desenvolvedor brasileiro precisa focar as atenções aos projetos pequenos. Não é à toa que a Ubisoft veio para cá fazer jogos de DS e não um Prince of Persia para o Xbox 360. Acho que o caminho mais saudável e natural para o desenvolvedor no Brasil é pensar em projetos pequenos: DS, celular, jogos para download, PlayStation Network, Xbox Live Arcade etc.

O jogo Erinia, por exemplo… fazer um RPG multiplayer massivo online, na época ainda que ele foi feito e lançado, em 2004, foi algo muito corajoso e até arriscado. É difícil competir com os produtores lá de fora. Nós não temos as mesmas condições que os estúdios da Europa, dos EUA ou mesmo da China, não temos os profissionais que eles têm e não temos a grana que eles têm. E o mais importante de tudo: nós não temos um mercado consumidor ainda. Você vai fazer um jogo pra te sustentar e distribuí-lo só no Brasil? É muito arriscado.

Fonte:terra


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Comentários

  • Júnior disse:

    É, isso realmente me confudiu mais ainda em eu querer ser um futuro design de games :/

  • Willian disse:

    Olá galera….
    estou aqui pra tirar uma duvida, eu fiquei sabendo que daqui a 5 ou 6 anos está sendo previsto que o mercado prentende se ampliar e começar a investir cada vez mais na parte de games e que esse futuro ira ser muito disputado e terá muitas pessoas que vão começar a buscar essa área… + até lah eu estou pensando em me formar agora em Designer e Designer de Games…. Pra que até lah eu esteja fazendo estágio em alguma empresa, para que assim ela ja possa me contrar por que eu ja estar fazendo parte e por ja conhecer tudo.
    Mais preciso saber se isso vai realmente valer a pena por que eu gosto muito de desenhar e fico o tempo todo desenhando nas horas vagas, e também gostaria de que alguem possa me dar uma opinião, pois quero saber se isso realmente é verdade…
    Se alguem puder me ajudar me envie um e-mail: willian_seiya123@hotmail.com
    Obrigado e tenham uma boa tarde ! ! !

  • Alexandre Mulek disse:

    Eu mesmo estou trabalhando no desenvolvimento de jogos para internet, utilizando o Blender e o Unity3D, dois bons softs gratuitos. O que mais me atrapalha é a questão de tempo, já que estou no final da faculdade. Mas fora isso, hoje está muito fácil aprender a fazer games assistindo tutoriais na internet. Pretendo postar mais games futuramente no meu site http://www.kilofone.com .



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