Perita afirma em depoimento que camisa incrimina Alexandre Nardoni
Se os dois primeiros dias do julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá trouxeram poucas novidades sobre o processo contra o casal, o terceiro apresentou novos detalhes do suposto envolvimento dos dois na morte de Isabella. No depoimento mais longo desde o início do júri – mais de cinco horas -, a perita Rosangela Monteiro, do Instituto de Criminalística, disse que a marca de rede encontrada na camiseta do pai da garota o coloca na cena do crime.
O depoimento da perita, testemunha compartilhada entre acusação e defesa, abriu o terceiro dia do júri, novamente com mais de uma hora de atraso. Na oitiva, ela se mostrou convicta de que Alexandre jogou a menina da janela. “Foi o Alexandre quem defenestrou ( atirou pela janela) a vítima. As marcas na camiseta só poderiam ter sido produzidas pelo ato de carregar um peso de 25 kg. Fizemos vários testes. Todos comprovaram isso”, disse.
Focada em questões técnicas, a perita responsável pelo laudo do caso disse acreditar que a madrasta removeu as manchas de sangue do apartamento enquanto telefonava à mãe de Isabella para comunicar a queda da menina. “Ela (Anna Jatobá) pode ter feito duas coisas ao mesmo tempo, como remover as gotas de sangue e ligar para a mãe”, disse Rosangela.
Além da perita, duas testemunhas da defesa prestaram depoimento na quarta-feira. Autor da reportagem do jornal Folha de S. Paulo na qual um pedreiro afirmava que uma obra vizinha do prédio fora arrombada, o jornalista Rogério Pagnan foi ouvido por 30 minutos. Em seu relato, pouco aproveitável para o andamento do júri, divertiu a plateia ao danificar a maquete do edifício, quando tentou demonstrar onde ficava a obra. “Apesar de você ter quebrado nossa maquete, agradeço sua presença”, disse o promotor Francisco Cembranelli, em tom bem humorado.
Uma segunda testemunha da defesa – o escrivão do 9º DP, Jair Stirbulov – ainda prestou um depoimento relâmpago, com menos de 10 minutos. No entanto, sob a justificativa de que as oitivas cansariam os jurados, o advogado Roberto Podval dispensou as oito testemunhas restantes de uma vez. Apesar de os advogados de Nardoni terem cogitado pedir o adiamento do júri por causa do desaparecimento do pedreiro Gabriel Santos na semana passada, ele integrava a lista dos liberados.
Com a decisão da defesa, que cogitava a manobra desde o início da manhã, a sessão acabou novamente interrompida. O aguardado interrogatório de Anna Jatobá e Alexandre ficou para a manhã desta quinta-feira.
Possível acareação
O terceiro dia de júri terminou com uma indefinição. A defesa do casal Nardoni deixou o fórum sem informar se realmente irá pedir uma acareação entre os réus e a mãe de Isabella, como cogitado na tarde de quarta-feira, mas pediu ao juiz Maurício Fossen para manter Anna Carolina isolada. “Tenho receio de que eu possa ser um pouco cerceado, castrado. Não sei se me permitiriam encerrar meu interrogatório”, disse Podval.
Antes da suspensão do julgamento, o juiz chegou a negar um pedido de acareação do advogado. Contudo, voltou atrás e, sob argumento do direito de “ampla defesa”, deixou o caminho livre para uma nova tentativa, que pode ocorrer na manhã desta quinta-feira.
A idéia de uma acareação revoltou o promotor do caso. Ao deixar o fórum, Cembranelli disse que a manobra demonstra o “desespero” da defesa, e desmereceu o trabalho da equipe de advogados do casal Nardoni. “Eles (advogados) entraram no julgamento prometendo desconstruir a tese da acusação, mas até o momento foram pífios”, disse.
Do lado de fora
Na porta de entrada do Fórum de Santana, na zona norte da capital paulista, onde mais de 100 pessoas se reúnem diariamente para acompanhar a movimentação, uma série de acontecimentos marcou o terceiro dia. Em menos de quatro horas, o advogado de defesa foi agredido, curiosos causaram confusão na fila e um pastor foi expulso do local.
Ao retornar do almoço, Podval foi agredido com um chute. O agressor, um manifestante a favor da condenação do casal Nardoni, fugiu do local. O advogado não comentou a agressão. Pouco depois, a falta de organização da fila dos interessados em acompanhar o júri provocou novo tumulto – desta vez, entre 50 pessoas. O empurra-empurra só foi controlado com a chegada de 10 policiais militares.
No final da tarde, um personagem famoso na porta do fórum nos últimos dias teve de se despedir do local. Após três dias de performances, com interpretações musicais e gritos em nome de Deus, o pastor e fotógrafo Orlando Torres, 58 anos, foi expulso pela Polícia Militar na tarde desta quarta-feira. “Isso aqui é uma sessão triste, não é um lugar de festa. (Ele) estava incomodando muito com essa gritaria e essa cantoria toda”, disse o estudante Rodolfo Mendes, 25 anos, apoiado pelos policiais militares.
O caso
Isabella tinha 5 anos quando foi encontrada ferida no jardim do prédio onde moravam o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, na zona norte de São Paulo, em 29 de março de 2008. Segundo a polícia, ela foi agredida, asfixiada, jogada do sexto andar do edifício e morreu após socorro médico. O pai e a madrasta foram os únicos indiciados, mas sempre negaram as acusações e alegam que o crime foi cometido por uma terceira pessoa que invadiu o apartamento.
O júri popular do casal começou em 22 de março e deve durar cinco dias. Pelo crime de homicídio, a pena é de no mínimo 12 anos de prisão, mas a sentença pode passar dos 20 anos com as qualificadoras de homicídio por meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e tentativa de encobrir um crime com outro. Por ter cometido o homicídio contra a própria filha, Alexandre Nardoni pode ter pena superior à de Anna Carolina, caso os dois sejam condenados.
Fonte:terra
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