Morre aos 91 anos, pioneira da inclusão do deficiente visual
Dorina perdeu a visão aos 17 anos e dedicou-se a defender a educação para cegos
Memória
DORINA NOWILL 1919 – 2010
A professora Dorina de Gouvêa Nowill, uma das maiores ativistas pela inclusão dos deficientes visuais no País, morreu ontem aos 91 anos. Segundo informações de familiares, ela estava internada havia cerca de 15 dias no Hospital Santa Isabel, na zona oeste, para tratar uma infecção, mas acabou sofrendo parada cardíaca. O velório deve ser realizado hoje na sede da fundação que leva seu nome.
‘Foi uma morte praticamente natural’, afirma seu filho Alexandre Nowill, que também era seu médico. Dorina, que era casada com Edward Hubert, deixa outros quatro filhos – Cristiano, Denise, Dorininha e Márcio Manuel -, além de 12 netos.
A professora ficou cega aos 17 anos por causa de uma doença que os médicos nunca conseguiram entender. Decidiu então dedicar a vida à luta pela inclusão de pessoas na mesma condição.
Com um grupo de amigas, criou em 1946 a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que em 1991 recebeu seu nome. Junto com o Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, a Fundação Dorina Nowill Para Cegos foi uma das pioneiras na produção de livros em Braille, na distribuição gratuita dessas obras para deficientes visuais e no desenvolvimento de técnicas mais modernas para que o cego consiga ler – como livros falados e vozes sintetizadas no computador.
Superação. Dorina foi a primeira aluna cega a matricular-se numa escola regular em São Paulo. Na época, deficientes visuais praticamente não tinham acesso à cultura e à informação por causa da falta de livros adaptados.
Em 1945, conseguiu convencer a Escola Caetano de Campos, onde cursava o magistério, a implantar o primeiro curso de especialização de professores para o ensino de cegos. Após diplomar-se, viajou para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos paga pelo governo americano para frequentar um curso de especialização na área de deficiência visual, na Universidade de Columbia.
Quando regressou ao Brasil, concentrou esforços na fundação da primeira imprensa Braille de grande porte do País. Hoje, a editora é uma das principais fontes de renda da fundação e produz 80% dos livros do Ministério da Educação para deficientes visuais e encomendas especiais de cardápios para restaurantes, instruções de segurança de companhias aéreas, best-sellers, etc.
Dorina dedicou-se também à regulamentação da educação para cegos. Na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, foi responsável pela criação do Departamento de Educação Especial para Cegos. Em 1961, graças a seu empenho, o direito à educação ao cego virou lei.
Em Brasília. Entre 1961 a 1973, Dorina dirigiu o primeiro órgão nacional de educação de cegos no Brasil, criado pelo Ministério da Educação, Cultura e Desportos. Realizou programas e projetos que implantaram serviços para cegos em diversos Estados, além de eventos e campanhas para a prevenção da cegueira.
Em 1979, a professora foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos. Em 1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente, ela falou na Assembleia Geral das Nações Unidas como representante brasileira. Dorina também trabalhou intensamente para a criação da União Latino Americana de Cegos e foi diversas vezes premiada por seu trabalho.
Em 1989, o Congresso Nacional ratificou a Convenção 1599 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da reabilitação, treinamento e profissionalização de cegos. Esse foi mais um desdobramento do trabalho que Dorina havia começado 18 anos antes, com o primeiro centro de reabilitação para cegos criado por sua fundação.
CRONOLOGIA
1946
O começo
Dorina cria a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que em 1991 levou seu nome
1950
Em massa
É instalada na fundação a primeira imprensa Braille de grande porte do País para produção industrializada de livros para cegos
1962
Reabilitação
A fundação cria o primeiro centro de reabilitação para cegos do País.
fonte: estadao.com.br
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