Cielo é bicampeão mundial nos 50m livre
Superação, desafio, pressão. As três palavras acompanharam Cesar Cielo em cada braçada no Centro Esportivo Oriental, durante o Mundial de Xangai.
Acostumado a se preocupar apenas em manter o posto de homem mais rápido do mundo nas piscinas, o campeão olímpico se viu às voltas com o julgamento por doping às vésperas da competição. Amargou o protesto público de rivais, colegas lhe virando a cara, e a pressão para mostrar, na água, que seguia no topo.
Após conquistar seu segundo ouro, nos 50m livre, o brasileiro olhou para trás e avaliou tudo que passou ao longo do mês. Reconheceu que as duas medalhas de Xangai “têm peso maior que todas as outras” e classificou a batalha ao longo da semana como mais difícil do que qualquer coisa que já passou na vida.
Lamentou as amizades perdidas, mas avisou que sabe separar o Cielo pessoa e o Cielo nadador. Este último continua sendo o mais rápido do planeta.
Confira o que disse o bicampeão mundial após vencer a final dos 50m livre no sábado:
Críticas dos rivais
Não foi o cenário que eu imaginei. Como pessoa, posso dizer que fiquei um pouquinho chateado sim. Como nadador, não afeta. Não vim aqui fazer amigos. Vejo o meu indivíduo como duas imagens: o Cesar pessoa e o Cesar nadador.
Como nadador, consegui separar muito bem todos os problemas que sempre tive na minha vida e chegar atrás da baliza para tirar o melhor. Mas como pessoa é difícil ver alguém que você conversava e de repente não quer nem te dar “oi”.
Desafio maior que uma final olímpica
Ninguém faz ideia do que passei. Ninguém tem noção da magnitude que foi isso aqui. Foi um desafio mais difícil que a final olímpica, mais difícil que qualquer coisa que passei na minha vida. Mais uma vez, consegui sair vitorioso.
Mesmo com uma adversidade dessas, consegui passar por cima e tirar essas duas medalhas de ouro. Posso dizer que, com 24 anos, já passei por tudo que o esporte pode oferecer, já passei por todos os tipos de pressão, e isso só me dá mais confiança para continuar nadando.
O maior orgulho
Esta semana foi um desafio nunca visto na natação do Brasil, talvez até na natação mundial. Foi uma semana de muita luta, de muita superação. Acho que é a primeira vez que eu olho para trás e tenho realmente orgulho de tudo o que passei, de tudo o que consegui superar.
É lógico que houve alguns momentos de que tive orgulho, como a medalha de ouro olímpica, como o título mundial. Mas esta foi um orgulho de ter superado um negócio que nunca imaginei enfrentar.
Mais preparado
Mentalmente, foi um desafio que até me deu confiança para passar por cima disso. Agora que passou, e não tem mais como voltar atrás, tem que pegar os positivos de tudo isso. Eu me sinto um cara muito mais preparado, muito mais confiante do que antes.
Não foi fácil estar atrás da baliza essa semana. Foi muito difícil e espero que isso sirva não só para natação, mas para qualquer pessoa que esteja acompanhando a minha carreira, acompanhando o esporte, para a vida de todos os brasileiros. Acho que a gente tem uma mentalidade, às vezes, de aceitar as coisas, abaixar a cabeça.
A campanha
O Brasil sai daqui com quatro medalhas de ouro, incluindo a da Ana Marcela. É uma campanha melhor que a de Roma.
Eu, pessoalmente, queria muito vir para cá disputar as três medalhas. Consegui duas de ouro. Essas duas de ouro estão com um peso maior do que todas as outras que tenho na minha coleção.
Novos valores
Evoluí como atleta, já vinha um pouco mais forte do que era antes. Como pessoa, mudei a percepção dos valores. Hoje, dou valor para coisas diferentes de antes. É como se eu tivesse tido um ataque cardíaco.
Acordei agora e tenho que aproveitar o que realmente é importante para mim na vida. A gente nunca sabe o que vai acontecer no dia seguinte.
O ouro nos 50m livre
Eu achei que a prova foi bem disputada, com grandes atletas na final. Foi uma surpresa não ter o Fred Bousquet. Acho que ele seria um grande desafiador para a medalha de ouro. Foi uma prova tensa, todos estão de parabéns.
É muito bom para mim conquistar essas duas medalhas de ouro, repetindo a campanha de Roma. E mais o quarto lugar nos 100m livre, que me deixou contente também. Isso aqui foi para realmente fechar a competição com chave de ouro.
Quarto lugar nos 100m livre
Acho que naquela situação (Pan-Pacífico, em 2010) eu nadei mal mesmo. É muito difícil você bater na borda e aquilo não é o que você pode fazer, ou você errou alguma coisa. Passei o semestre inteiro com muita dificuldade nos 100m livre.
Na verdade, acho que desde 2009 não tenho nadado bem os 100m livre. Mas aqui fiquei satisfeito com a postura que tive, com o jeito como nadei. Não dava para ter sido melhor que aqueles 48s01. Talvez um 48s00, se fosse possível, para empatar.
Seleção brasileira
Acho que a seleção inteira não vai ser mais a mesma. Todo o grupo do Brasil, hoje, é um grupo diferente. Eles conviveram o dia a dia comigo, viram que não foi fácil. Mas estou muito contente de olhar para os caras agora, e eles verem que ainda podem contar comigo.
Mesmo na parte mais difícil de qualquer situação, vou representar o Brasil da melhor forma que puder.
Futuro
Foi uma experiência que, depois de tudo passar, posso dizer que adicionou muito. Deixou minha parte mental e minha parte como pessoa muito diferentes de como era antes.
A partir de agora é olhar para as Olimpíadas, olhar para os Jogos Pan-Americanos, deixar tudo para trás, tirar só os ensinamentos e virar a página. Não quero mais falar sobre isso de jeito nenhum.
Rio-2016
Eu não pretendo parar antes de 2016 de jeito nenhum. Até os Jogos Olímpicos do Brasil, pretendo continuar fazendo o que venho fazendo. Foram quatro anos ganhando medalha de ouro nos Mundiais. Espero que a gente continue nessa sequência.
Eu sei que ninguém ganha para sempre, mas ninguém passa pelo o que passei também. Então, vou usar isso como motivação para mim nos treinos.
fonte: Lydia Gismond
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