Delegada diz que pai de aluno que se matou no ABC não foi negligente
A delegada Lucy Fernandes, que apura eventuais responsabilidades no caso do aluno que atirou numa professora e se matou em seguida numa escola de São Caetano do Sul, no ABC, afirmou nesta quarta-feira (28) que o pai do estudante não foi negligente ou omisso em relação ao armazenamento da arma usada pelo filho no crime.
O revólver calibre 38 que estava com Davi Mota Nogueira, de 10 anos, pertence ao pai dele, o guarda-civil Milton Evangelista Nogueira.
“O pai não foi negligente ou omisso. Acho que não vou indiciá-lo por negligência em relação ao armazenamento da arma”, disse a delegada Lucy em entrevista após o depoimento dos pais e do irmão de Davi no 3º Distrito Policial em São Caetano.
Além de Milton, foram ouvidos também a mãe de Davi, Elenice, e o irmão dele, de 16 anos. Os três chegaram e saíram da delegacia sem falar com os jornalistas.
“A motivação do crime continua sendo um mistério”, disse a delegada. As oitivas, que começaram pela manhã e terminaram no início desta tarde, irão ajudar a investigação policial a traçar um perfil psicológico de Davi e tentar entender porque ele atirou na professora Roseli Queiroz de Oliveira, de 38 anos, e se suicidou em seguida com um tiro na cabeça na última quinta-feira (22).
De acordo com a delegada, o pai chorou durante o seu depoimento e falou que nunca escondeu a arma particular dos filhos. “Ele comentou que só os orientava a não pegá-la porque era perigoso.”
Em depoimento à polícia, o guarda contou que deixou a arma usada pelo filho carregada em casa, pois estava com pressa. O guarda afirmou que sempre guardava a arma sem munição, mas que naquele dia a esqueceu com as balas. A arma estava sobre um armário e foi usada pelo menino.
O guarda-civil contou que logo que se lembrou que havia deixado a arma carregada foi procurá-la e não a encontrou. Ele perguntou à mulher, que disse não ter mexido no armário. Em seguida, o pai foi até a escola falar com os filhos – os dois negaram que estivessem com a arma.
Ainda segundo Lucy, uma coisa que chamou a sua atenção no depoimento foi o relato do irmão mais velho de Davi.
“Ele falou que duas semanas antes da tragédia, Davi perguntou para ele: ‘Se eu morrer você vai ficar triste?’. ‘É claro que vou,’ respondeu o irmão de Davi”, contou a delegada. Apesar de a frase sugerir algo sendo tramado pelo aluno, ainda não é possível afirmar com clareza se Davi estava planejando algo ou premeditando um crime, segundo Lucy.
O irmão mais velho também afirmou que Davi nunca se queixou de Roseli. “Ele falou que Davi não gostava de outra professora e gostava muito de uma professora que não era a Roseli. Em seguida, o irmão mais velho disse: ‘Então você tem sorte’, dando a entender que ele tinha problema com outros professores. A Roseli não foi citada pelo mais velho”, afirmou Lucy.
A relação de amizade de Davi com o irmão mais velho era forte, segundo a delegada. Um desenho que havia sido apreendido pela polícia e mostra Davi ao lado de um professor, com os dizeres “Eu com 16 anos”, a mesma idade do irmão mais velho, foi divulgado nesta quarta.
“Inicialmente achávamos que poderia se tratar de uma imagem do garoto com armas, mas tirem suas próprias conclusões. Eu acho que não são bem armas que ele desenhou, parece mais um ‘x’ mesmo”, disse Lucy. Mesmo assim, a imagem será analisada por psicólogos.
Por enquanto, o que a delegada tem é que o comportamento de Davi era de um menino tranquilo e tímido, sem ter tido qualquer problema na escola.
Mesmo sem ter concluído porque Davi atirou na professora e se matou, a delegada sustenta que continua a investigar se alguém pressionou o aluno a cometer o crime. “Pode ser que um outro aluno que não gostava da professora Roseli tenha obrigado Davi a atirar. É uma hipótese. Não temos nada concreto. É uma suposição para tentar entender tudo e vamos apurar.”
Outras hipóteses consideradas pela polícia para explicar o crime são bullying e disparo acidental. A polícia também investiga se o garoto quis se vingar da professora porque não gostava dela ou por sofrer humilhações, ou se teria tentado dar um susto em Rosileide e se matou com medo das consequências após feri-la.
Professora
A professora Rosileide afirmou nunca ter tido qualquer problema com Davi, segundo disseram seus parentes ao G1. Ela passava por uma nova cirurgia na tarde desta quarta-feira (28), segundo informou a assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde ela está internada.
O procedimento é para corrigir uma fratura no joelho. Não havia previsão de término da operação, iniciada por volta das 12h.
Quando foi atingida no quadril pelo disparo, ela caiu e fraturou a patela do joelho. Rosileide está em observação num quarto do hospital. Ela ainda se recupera da cirurgia que retirou a bala que a feriu.
A delegada Lucy pretende ouvir o depoimento de Rosileide a partir das 10h de quinta-feira (29) no hospital.
Volta às aulas
Alunos da Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão soltaram balões brancos no colégio na manhã desta quarta em homenagem ao aluno e à professora. As aulas foram suspensas após o crime e retomadas nesta manhã.
Os portões da unidade de ensino foram abertos às 7h. Os alunos usavam camisetas brancas e seguravam rosas e balões da mesma cor. Os estudantes combinaram um ato silencioso simbólico pela internet, por meio das redes sociais como o Facebook.
Poucos alunos foram à escola acompanhados dos pais nesta manhã. Os estudantes diziam estar abalados emocionalmente em retornar ao local da tragédia. Outros afirmaram ter medo de passar pela sala, corredor e escada onde ocorreu o crime.
Psicólogos vão ficar na escola por tempo indeterminado, até quando a presença deles for considerada necessária para dar apoio aos alunos e funcionários do colégio.
fonte: Kleber Tomaz
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