Momento do Brasil pauta carnaval das ruas e folia incorpora agenda política
Temas da agenda política do país dominam blocos, marchinhas e frevos e personagens como Eduardo Cunha e o japonês da federal viram principais referências dos foliões
O carnaval do Zika? Do Nestor Cerveró? Da Lava Jato? Da crise? A festa da folia em 2016 tem muitos temas e faces. A combalida cena política brasileira, com a presidente Dilma enfrentando um processo de impeachment, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro no STF e a Lava Jato com todas as suas reminiscências, forma uma poderosa sombra sobre a maior festa do País.
A crise econômica e o surto do Zika vírus também mudaram o horizonte da folia brasileira.
A criatividade do brasileiro, que sempre brilha no carnaval, se concentrou neste consternado momento da realidade brasileira.
“Dilmãe (sic), eu quero mamar/dá uma teta pro petista roubar”, com esses versos, o bloco “Fora Dilma!” puxa o movimento dos blocos contrários ao governo da petista. Há, ainda, “Unidos pela Lava Jato”, com as alas Heróis da Pátria, Presidiários, Dilma Pinóquio, Fora Corruptos e STF.
“Pimenta no Cunha dos Outros é Refresco”, um dos blocos de Brasília, é um contraponto a essa invasão de defensores do impeachment e mira no presidente da Câmara. Os organizadores descrevem o bloco como “anticoxinha”.
Além desses e de muitos outros blocos “politizados”, muitas marchinhas, frevos e outros adereços da folia se concentram nos temas que ocupam o noticiário político do País. Um exemplo é o japonês da federal, que virou boneco de Olinda, máscara e o maior hit da temporada.
Thiago Vasconcellos de Souza, que compôs o hit, também é responsável por “Tia Wilma e a bicicleta” e “Guarde bem sua cartinha”, que satirizam algumas das maiores polêmicas da cena política nacional.
No Rio, a Mocidade Independente de Padre Miguel levou ratos engravatados presos às alegorias em referência aos recentes escândalos de corrupção que assolaram o País. O enredo da escola celebra a capacidade do brasileiro em perseverar, de não desistir em face das dificuldades.
A escola imaginou a chegada de Dom Quixote ao Brasil e como seria a percepção do herói de Miguel de Cervantes do País. A última alegoria, “Lava Jato da Felicidade” foi uma mensagem otimista sobre os rumos da política brasileira na esteira da operação Lava Jato.
Trecho do samba-enredo da Mocidade
Faz clarear as tenebrosas transações/Lavando a alma da Mocidade/Lançando jatos de felicidade/Vencer mais um gigante nessa história surreal/Numa ofegante epidemia a qual chamamos Carnaval/Vem ser mais um guerreiro/Eu sou Miguel escudeiro/Dessa estrela que sempre vai brilhar!/Eu hei de cantar por toda vida/Minha Mocidade, escola querida/Nessa disputa…/Verás que um filho teu não foge à luta! (não)
Apesar desse momento da Mocidade na Sapucaí, as escolas de samba, tanto no Rio como em São Paulo, passaram longe desses temas quentes que se recusam a sair da cabeça do folião. Temas polêmicos, depois de todo o auê sobre o patrocínio recebido pela Beija-Flor de uma ditadura africana em 2015, foram evitados.
De qualquer forma, 2016 viu a carnavalização da política ganhar força depois que movimentos como o “Vem Pra Rua” e o “Movimento Passe Livre” popularizaram as manifestações ao longo de 2015.
A politização do carnaval, no entanto, não é uma novidade. O humor crítico foi algo usado por muito tempo, até perder a força nos anos de repressão militar, quando havia menos liberdade. A crítica por meio da música, por exemplo, foi algo muito forte nos anos 1930 e 1940. Historicamente, Pernambuco e Rio de Janeiro carregam a tocha da irreverência política na folia. As máscaras de Joaquim Barbosa e Nestor Cerveró foram as mais vendidas no Rio de Janeiro nos últimos dois anos.
O juiz Sérgio Moro, Eduardo Cunha, Delcídio do Amaral e o japonês da federal rivalizam pelo posto de máscara mais vendida do carnaval carioca em 2016. A multiplicação dos personagens da cena política mostra que a folia nunca esteve tão séria como em 2016 ou terá sido o país que deixou de ser sério?
Fonte: Ig/Último Segundo/Carnaval
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