Cotas para Universidades públicas divide o Senado
Numa audiência com debates acalorados, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado reuniu nesta quarta-feira defensores e opositores do projeto de cotas nas universidades federais. Embora a proposta só beneficie quem cursou o ensino médio em escola pública, prevendo uma subcota para negros e índios variável em cada estado, foi a questão racial que dominou a discussão.
De um lado, o doutor em geografia e articulista Demétrio Magnoli e o cientista político Bolívar Lamounier faziam críticas pesadas ao projeto. De outro, o juiz federal do Rio William Douglas, professor voluntário da Educafro, uma ONG que oferece pré-vestibulares para estudantes negros, e o procurador do Estado do Rio de Janeiro Augusto Werneck saíam em defesa das cotas.
Magnoli exibiu imagens de crianças brancas e negras em sala de aula e usou recursos gráficos para indicar que as cotas vão separá-las.
– É passar uma fronteira no meio dessa classe (a da foto), do povo, das favelas. As raças não existem, o único jeito de criar raças é através da lei. É uma vergonha o que se está discutindo aqui – disse Magnoli.
Segundo ele, é “demagogia barata” falar em reparação do que ocorreu durante a escravidão, pois, afirmou Magnoli, os negros de hoje tiveram ancestrais brancos, assim como os brancos têm antepassados negros, dado o alto grau de miscigenação.
Já o juiz Douglas disse que os negros pobres são mais discriminados do que os brancos pobres. Por isso, argumentou ele, a reserva de vagas deve levar em conta não só o fato de o aluno ter estudado em escola pública, como também critérios raciais.
– Como ouvi de um aluno meu: ‘A polícia, para bater na gente, sabe exatamente (quem é negro).’ A gente dá um fusca para um, uma Ferrari para outro e depois quer falar em igualdade.
A reunião mostrou que os integrantes da CCJ estão divididos sobre a cota racial. Mas há consenso de que é preciso instituir uma cota social, ou seja, um sistema que beneficie fatia mais pobre da população.
Diante do impasse, a votação que seria já na próxima semana deverá ser adiada por 15 dias. Nova audiência pública está marcada para a próxima semana, com a presença do ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, que é favorável ao projeto, e do presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), reitor Amaro Lins, que é contrário.
Durante a sessão, senadores repreenderam o tom agressivo de Magnoli. Enquanto falava, ele chamou a atenção da senadora Ideli Salvati (PT-SC), aniversariante hoje, porque o celular dela tinha tocado.
– Eu agradeço se desligarem os celulares. É assim que se faz sempre em locais públicos – reclamou Magnoli.
O presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), interveio:
– Por razão regimental, o convidado não pode polemizar com senadores.
Magnoli retrucou:
– Não estou polemizando. Estou pedindo respeito.
Fonte: O Globo
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