Atrasada, mobilização do governo contra Aedes aegypti traz pouco efeito imediato
Anunciada pela presidente Dilma ao longo da semana, mobilização nacional contra mosquito começa neste sábado
Milhares de militares em busca de focos de proliferação do Aedes aegypti nas ruas, ministros em visitas oficiais a governadores, ampla divulgação de combate por meio de todas as mídias. Apesar de positiva como forma de esclarecer a população a respeito dos males causados pelo mosquito vetor do zika vírus, dengue e chikungunya, a mobilização do governo federal para conter a epidemia das doenças transmitidas pela espécie está atrasada e terá pouco efeito imediato.
É assim que especialistas consultados pelo iG analisam a criação do Dia Nacional de Mobilização para o Combate ao Aedes Aegypti, lançado pela presidente Dilma Rousseff ao longo da semana e marcado para este sábado (13). Um dos objetivos é, além de levar militares às residências de três milhões de famílias em 350 municípios na data, detalhar as medidas que devem ser adotadas pela população por meio da distribuição de panfletos.
Coordenadora do setor de pesquisa de vírus respiratórios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a infectologista Nancy Bellei explica que o baixo impacto das medidas se deve especialmente ao fato de o País já viver seu pico epidêmico, com previsão para se encerrar em maio, e de 2015 ter registrado boom de casos suficiente para gerar campanhas semelhantes.
”Já temos criadouros em muitos lugares, então o efeito não tem como ocorrer de forma imediata, pois o mosquito está aí, já se espallhou. É uma epidemia que está em todo o Brasil e ultrapassou nossas fronteiras. Existe a responsabilidade que é do gestor público e ela não foi feita”, avalia Nancy. “As medidas podem ser importantes para o futuro e acho que, com tanta propaganda, as coisas podem melhorar futuramente. Mas tudo é feito com muito atraso.”
O discurso da coordenadora da Unifesp encontra eco entre outros especialistas da área, como o médico epidemiologista Gustavo Bretas, que vê baixa efetividade em campanhas contra o mosquito, como as feitas em anos anteriores pelos governos federal e municipais. Para ele, isso fica escancarado com as sucessivas epidemias de dengue no País.
“É muito difícil controlar um mosquito e não existe nenhuma estratégia para isso. O enfoque está incorreto”, diz ele. “A prioridade no momento deveria ser proteger as mulheres grávidas, pois elas estão realmente expostas a risco devido ao zika. A evidência da relação entre a epidemia e a proliferação de casos de microcefalia em fetos de mães infectadas aponta para esta direção.”
As medidas do governo federal foram anunciadas na semana seguinte à declaração de estado de emergência sanitária internacional emitida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo a qual a suspeita de que o zika é responsável por causar malformação em fetos – mais especificamente, microcefalia – representa uma “emergência de proporções públicas de proporções mundiais”.
Além do Ministério da Defesa, com atuações do Exército, Marinha e Aeronáutica, Dilma também prioriza na campanha a mobilização dos Ministérios da Saúde e da Educação. Segundo o ministro Aloizio Mercadante, a estratégia é usar as redes federal, distrital, estaduais e municipais para levar informações sobre as formas de extermínio do mosquito e identificação da doença.
A estratégia prevê a distribuição de material educativo a mais de 2,7 milhões de professores e gestores da educação básica; a assinatura do Pacto da Educação Brasileira contra o zika, em que secretarias estaduais e municipais de educação se comprometerão com a campanha Zika Zero; e a participação das instituições de educação. O MEC também enviará cartas a reitores, diretores, secretários, servidores e pais de alunos com orientações, além da distribuição de material educativo a todos os estudantes.
Para Nancy, no entanto, os dois pontos fundamentais que complicam o combate ao mosquito atualmente acabam ignorados pela mobilização, caso da urbanização ligada à falta de saneamento básico, que faz com quem inúmeras áreas onde os lixos das casas ficam expostos tenham mais chance de ter focos do Aedes; e do endividamento das prefeituras, que freia a capacidade dos órgãos públicos de utilizar verba para campanhas de conscientização da população.
“Claro que é sempre melhor fazer uma campanha como esta do que não fazer nada”, opina a especialista. “Mas há outras questões que acabam complicando esse combate, e seria melhor não termos esperado por uma doença nova, como o zika vírus, para finalmente agir.”
Fonte: Ig Vigilante
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