Aliados de Cunha se unem para enterrar processo de cassação do deputado
Presidente da Câmara dos Deputados saiu fortalecido do processo de impeachment na Casa; ação agora está no Senado
Fortalecido pela aprovação do prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conta com apoio de partidos do Centrão (PP, PR e PSD) e de parte da oposição para enterrar o processo por quebra de decoro no Conselho de Ética e salvar seu mandato.
Atualmente, têm o apoio de PR, PP, PTB, PRB, PSD, PSC, SD e parte do DEM para blindá-lo na Casa, aliados de Cunha dizem já ter maioria no conselho para salvá-lo. E há uma avaliação entre os apoiadores do presidente da Câmara de que ele manterá o apoio do grupo.
Os aliados também apostam na retribuição pelo avanço do impeachment contra Dilma, tocado por Cunha com rapidez. Um dos defensores da posição é o deputado Paulinho da Força (SD-SP), um dos mais aguerridos defensores do peemedebista na Casa.
“Todo mundo sabe que sem Eduardo Cunha não haveria processo de impeachment. Graças ao trabalho dele foi possível tirar o PT do poder”, afirma Paulinho.
Um sinal da manutenção do alinhamento é o número de parlamentares que rebateram os discursos contra Cunha na sessão de votação da admissibilidade do impeachment. Além disso, o peemedebista mantém ao redor líderes que despontam como possíveis candidatos à presidência da Casa em 2017.
Nos bastidores, aparecem como pré-candidatos o líder do PTB, Jovair Arantes (GO); o líder do PSD, Rogério Rosso (DF); o ex-líder do PR Maurício Quintella Lessa (AL); e o líder do PSC, André Moura (SE). Os quatro são potenciais herdeiros do grupo pró-Cunha na Casa.
É com esses líderes que os aliados esperam proteger o peemedebista. Cunha alimenta em todos eles a expectativa de lhe suceder com seu apoio. Na avaliação dos integrantes do círculo, esse comportamento do presidente mantém o grupo unido.
Presidido pelo deputado José Carlos Araújo (PR-BA), o Conselho de Ética tem até 19 de maio para concluir a instrução e até 2 de junho para votar o parecer do relator Marcos Rogério (DEM-RO). Com as recentes mudanças na composição do colegiado, há sinais de que Cunha pode ter mudado a correlação de forças no grupo. Isso lhe permitirá enterrar eventual recomendação para cassação de mandato ou negociar uma punição mais branda.
Os aliados do peemedebista contam com o voto da novata Tia Eron (PRB-BA) para derrotar o grupo adversário. A deputada vem sendo disputada pelos dois lados e disse publicamente admirar o desempenho de Cunha no comando da Casa, apesar de ainda não ter dado sinais de como deve votar.
‘Acordão’
Deputados do PT acusaram o presidente da Câmara e a oposição de terem feito um “acordão” para aprovar o impeachment em troca da salvação do mandato do deputado. “Na votação de ontem (domingo), ele (Cunha) claramente mobilizou sua base para aprovar o impeachment em troca de ser isento de investigação”, disse o líder do partido na Câmara, Afonso Florence (BA), na segunda-feira (18). “O próprio Cunha disse que poderia cair um dia, mas que Dilma iria atrás.”
Henrique Fontana (PT-RS) ressalta que Cunha e outros deputados investigados na Operação Lava Jato esperam que, caso assuma a Presidência, o ainda vice Michel Temer dê um freio no trabalho da Polícia Federal.
O peemedebista desmente a versão e garante respeitar o trabalho da Polícia e do Ministério Público. Cunha é processado porque, após dizer à CPI da Petrobras que não tinha contas no exterior, a Lava Jato descobriu na Suíça contas que controla – ou seja, por ter mentido aos colegas, o que configuraria quebra de decoro parlamentar.
Cunha voltou a dizer não sentir constrangimento em continuar na presidência da Casa, embora seja processado no Conselho de Ética e responda a inquéritos no Supremo Tribunal Federal. “Acho engraçado quando vejo as entrevistas do advogado-geral da União (José Eduardo Cardozo) pedindo que o Supremo limite a denúncia contra a presidente. Mas quando se trata de mim, não tem limite” criticou.
Chamado de “gângster” pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e de “canalha” por Silvio Costa (PT do B-PE), Cunha já avalia processá-los. Entre os tucanos, o discurso é que o foco será evitar manobras e aguardar o STF decidir pelo afastamento do peemedebista.
Fonte: Último Segundo/Política/O Estadão
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