Grafiteiros ilustram quartéis do Batalhão de Choque em evento cultural em SP
Choque Festival acontece neste sábado e domingo na sede da corporação, no centro da capital paulista; crianças podem se divertir brincando de ser artista
Com a energia e empolgação típicas de uma criança, Kaique César Bucholz, de 8 anos, corria de um lado para o outro dentro de um quartel do Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo na tarde deste sábado (12), no centro da capital paulista. “Eu sou o menino do desenho”, revela o pequeno, que já estava com as mãos sujas de tinta, depois de brincar de artista no Choque Festival – promovido, neste final de semana, pelo comando da PM em parceria com artistas do grafite.
O desenho ao qual Kaique se referia era a imagem de uma criança sorridente – no caso, ele próprio – dando as mãos para um policial. A intervenção, produzida pelo grafiteiro Pagu, estampa hoje um enorme muro dentro do quartel do Comando de Policiamento de Choque, no bairro da Luz. “Eu cheguei com a ideia de fazer esse grafite em um dos muros do Batalhão de Choque e perguntei que parede eu poderia usar. Quando o Major Ambar me disse para fazer na parede principal, por cima do logotipo e dos brasões da PM, eu percebi que aquilo seria grande”, conta Pagu.
O grafite de Pagu chamou a atenção de outros grafiteiros e de policiais, fazendo a ideia ganhar ainda mais força. “Eles queriam que eu fizesse desenhos nas outras unidades. Disse que eu não conseguiria sozinho, chamei outros artistas e hoje estamos com o festival acontecendo”, explica.
Neste sábado (12) e domingo (13), das 9h às 18h, o Batalhão – que está sempre aberto para visitas do público em geral – está sendo tomado por grafiteiros “oficiais” e qualquer um que tiver interesse em observar a criação, ao vivo, das intervenções urbanas, ou seja, dos desenhos dos artistas. “Não posso chamar de grafite, porque o conceito de grafite remete a algo ilegal e não autorizado. Aqui, tudo o que estamos fazendo é autorizado pela PM e isso é incrível”, analisa Pagu.
Além de observar as obras e interagir com os grafiteiros e com os policiais, o público poderá ainda deixar a sua própria marca em um dos quadros para colorir expostos no local. Para a diversão das crianças, mais de 10 cores de spray estão disponíveis para quem quiser se aventurar no desenho. “Eu já desenho, mas uso lápis. Com o spray é muito mais difícil”, disse Rafael Soares, de 12 anos. “Nunca tinha pintado nada com tinta em spray. Me sujei todo, mas estou aprendendo”, conta ele.
“Eu jamais imaginei que veria o Batalhão assim”, conta Sergina da Motta, voluntária da equoterapia, um programa de terapia médica realizado pelo Regimento de Polícia Montada “9 de Julho”, destinado a pessoas com necessidades especiais. “Está ficando lindo e é importante que exista essa aproximação da comunidade com a polícia”, afirma. Algumas das crianças que participam da equoterapia também foram levadas para participar do evento.
Obra que deu origem ao festival
mãe do pequeno astro da obra de Pagu, a jovem Caroline Bucholz, conta que nunca viu o Batalhão com tantas cores. “Os desenhos deixam o ambiente mais descontraído, dá mais vontade de entrar, conhecer. É uma forma de levar a arte para dentro dos muros da PM”, afirma. Caroline diz também que a imagem é uma representação de uma foto que Kaique tirou ao lado de um oficial da Tropa de Choque.
“O desenho, com a criança sorrindo, mostra para os policiais e para a população, que ninguém ali é inimigo. Ao contrário, o grafite mostra que existe amizade entre a comunidade e a polícia. Acho que a mensagem é bem importante”, afirma Klaiton Nunes, amigo da família.
Para Pagu, autor da obra, seu desenho representa harmonia e carrega uma ideia de dualidade. “O menino está descalço, é criança da comunidade. O guarda, fardado. Mas eles estão dialogando. Acho que o desenho mostra, ao mesmo tempo, uma realidade social e uma quebra de paradigma.”
“O que está acontecendo aqui nunca aconteceu na história do grafite e nunca aconteceu na história da polícia de São Paulo. É um prêmio para se colocar no currículo”, comemora Pagu.
Para o Major Ambar, da Polícia Militar, o desenho de Pagu não poderia ser colocado em outro lugar. “Ali, no muro maior, ele é visto por todos que passam na rua, não só pelo pessoal da polícia. Além disso, mesmo cobrindo os brasões e o logotipo, o desenho continua informando, pois fica claro que aqui é uma base militar da Tropa de Choque, não tem motivo para não fazê-lo onde foi feito”, explica.
Palestra e mais ilustrações
de Pagu, outros seis artistas levaram sua arte para dentro dos muros do Batalhão de Choque neste final de semana. Marcos Rodrigo, conhecido como Wark da Rocinha, é grafiteiro há 15 anos e foi um dos que não hesitaram em aceitar o convite de Pagu para participar do evento.
“Eu disse ‘nossa, dentro do batalhão? Como assim?’, mas aceitei de prontidão, pois sou a favor de toda a forma de comunicação”, conta. “A polícia tem que andar de mãos dadas com a cultura. Essa junção é importante não só para quem trabalha com street art, mas para toda a sociedade.”
O desenho de Wark representa uma família, com uma mãe solteira e uma série de filhos. Ele conta que a imagem mostra que a família tem um certo estranhamento, mas que se sente bem no lugar em que está. “Além disso, família representa união”, finaliza.
Neste domingo, o artista Rui Amaral fará uma palestra no local para discutir a questão do diálogo entre grafiteiros, policiais e a comunidade. “Ele vai falar sobre tudo o que está acontecendo aqui, sobre o que isso representa e sobre o que pode ser feito a partir do que começou nesse festival”, diz o Major Ambar.
As imagens ficarão expostas, de forma permanente, em todas as paredes onde houve intervenção urbana dentro do Batalhão de Choque. A promessa é de que elas só sairão dos muros quando forem cobertas por novas ilustrações, na próxima edição do Choque Festival, que será no ano que vem.
Serviço
Choque Festival
Sábado (12) e domingo (13), das 9h às 18h – entrada gratuita.
Endereços:
Comando de Policiamento de Choque – Rua Jorge Miranda, 789, Luz.
2º Batalhão de Policiamento de Choque – Rua Jorge Miranda, 367, Luz.
Regimento de Policia Montada Nove de Julho – Rua Jorge Miranda, 238, Luz.
Fonte: Último Segundo /Brasil/Ig. São Paulo
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