Números de mulheres com AIDS triplicou em São Paulo
Apesar de a maioria das mulheres brasileiras acima dos 50 anos ter uma vida sexual ativa, 72% delas não usam preservativo nem durante as relações eventuais. Uma das consequências é que a incidência de casos de Aids nesta faixa etária triplicou entre 1996 e 2006, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde e divulgada ontem.
Por este motivo, elas foram escolhidas como alvo da campanha de prevenção à doença promovida pelo ministério, cujo slogan será “Sexo não tem idade, proteção também não”.
De acordo com dados divulgados ontem, a incidência de Aids entre mulheres com idade de 50 a 64 anos passou de 3,7 casos por 100 mil, em 1996, para 11,6 por 100 mil em 2006. No total, 47.431 brasileiros com mais de 50 anos têm Aids, dos quais 15.962 são mulheres. Somando todas as faixas etárias, o País registrou até junho do ano passado 506 mil casos da doença.
“O problema é mais do padrão cultural e do machismo que prevalece na sociedade. As relações não são horizontais. É o homem que normalmente estabelece o padrão da relação. É ele quem decide se vai ou não usar camisinha”, disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que participou ontem do lançamento da campanha, na Cidade do Samba, no Rio.
O Ministério da Saúde pretende distribuir 500 milhões de camisinhas em 2009 – cerca de 40 milhões por mês. Em fevereiro, mês do Carnaval, esse número será de 60 milhões. O governo também comprou 15 milhões de sachês de gel lubrificante para distribuição gratuita.
Temporão rebateu críticas de deputados conservadores que questionaram a compra do lubrificante por considerarem um incentivo ao homossexualismo. “O ministério já compra o gel desde 2001”, explicou. “Tem gente que acha que o gel serve só para sexo entre homens. Essa gente não entende nada de sexo”, rebateu o ministro.
Segundo a coordenadora do Programa Nacional DST e Aids, Mariângela Simão, o gel terá distribuição dirigida a organizações não-governamentais e alguns grupos, especialmente travestis. No entanto, ela enfatizou que atualmente não há mais grupo de risco, já que o maior crescimento no número de infectados é verificado entre heterossexuais e camadas da população que não eram tão atingidas, como a de homens e mulheres acima dos 50 anos. “Apesar de o número de casos absoluto ser bem menor do que em mulheres de 25 a 39 anos, nas faixas etárias mais velhas a tendência é de crescimento”, afirmou Mariângela.
A ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, chamou a atenção para que a falta de preservativo não se deve à falta de informação. “É uma geração pré-Aids, que não encara o uso do PRESERVATIVO como fator de proteção”, completou.
Marta McBritton, presidente do Instituto Cultural Barong, ONG que trabalha com a promoção do uso de preservativos, destaca a necessidade de se ter preservativos à venda em locais frequentados pelas mulheres, como salões de cabeleireiros e academias de ginástica, onde elas poderiam se sentir mais à vontade para adquiri-los. “Muitas não querem comprar em supermercados e farmácias.”
COMPORTAMENTO
A pesquisa de comportamento do ministério revelou que 55,3% da população feminina de 50 a 64 anos é sexualmente ativa. De forma geral, elas também não conversam sobre sexo, não acham que sexo está ligado ao prazer e acreditam que o uso de camisinha influirá negativamente na relação. “Sexo com PRESERVATIVO é comportamento de mulher segura”, afirma Mariângela.
Ela recomenda que todas as pessoas que têm dúvida se estão infectadas façam o teste de HIV, vírus causador da Aids. Atualmente o governo disponibiliza na rede pública kits de diagnóstico que fornecem o resultado em 15 minutos. Em 2008 foram distribuídos 1,6 milhão de kits. Neste ano será o dobro – 3,3 milhões.
Mulher descobriu que tinha o vírus aos 50 anos, transmitido pelo 2º marido
A advogada Beatriz Pacheco já tinha 50 anos quando começou a ter os primeiros problemas de pele. Os médicos desconfiavam que a causa do problema fosse leucemia ou câncer de pele, mas depois de cerca de dois anos de exames, como nenhum diagnóstico se confirmava, pediram que ela se submetesse a um teste de HIV.
“Sou caretíssima, não bebo, nunca fumei, não entendia porque estavam me pedindo aquele exame. Fiz o teste, deu positivo”, lembra ela, que hoje tem 60 anos e é ativista do Movimento Nacional de Mulheres Positivas.
A doença foi contraída do segundo marido, afirma ela. Ele morreu em 1992, sem nunca ter sido diagnosticado como portador do vírus. “Pensavam que era cirrose hepática”, conta ela.
Beatriz já havia se casado de novo. O terceiro marido fez os testes, que deram negativo. “Vivemos uma relação sorodiscordante por dez anos, até ele morrer de câncer”, conta. “Aprendi a usar camisinha com 50 anos. O pessoal da farmácia ria da gente.”
Com três filhos e quatro netos, ela afirma que não sofre preconceito da família, mas da sociedade. “Existe um mito de que é um risco conviver conosco, mas risco é transar sem camisinha”, afirma.
Para Beatriz, a campanha do Ministério da Saúde, lançada ontem durante evento no Rio, é extremamente importante porque a sua geração “não se toca, não se olha, acha que é só cuidar da pele e do rosto, mas tem que cuidar da sexualidade também”.
E ela completa: “A gente sempre pensa que sexualidade e Aids são coisas para jovem. E não são.”
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